O português José Saramago, que morreu na semana passada, era uma figura controversa. Comunista assumido, o único ganhador do prêmio Nobel de literatura de língua portuguesa - até hoje - assim como qualquer pessoa que assume posições claras, tal qual seu jeito de escrever - criou simpatizantes e não-simpatizantes. Pois, nego-me a dizer que alguém não goste por completo de Saramago. Se não dele; sim, para suas obras. Se bem que O Evangelho Segundo Jesus Cristo - no qual retratou Jesus como filho de José e não, de Deus - causou tanta polêmica que resultou em sua mudança de sua terra natal para as Ilhas Canárias, na Espanha.
Com sua morte, as vendas dos seus livros já aumentaram, principalmente em Portugal e, hoje, trago um trecho de um pensamento de um dos meus escritores favoritos. O texto foi escrito para o Forum Social Mundial e fala da morte da Justiça num daqueles lugares só imaginados pelo autor. Leia na integra ==> http://migre.me/RLNX
"Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo." (José Saramago) (1922 + 2010)
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